História do Judô

Veja o conteúdo da palestra ministrada pelo Prof. Naoki Murata, 7º dan, curador do Museu do Kodokan, sobre a essência do judô.


CLIQUE AQUI e veja a Palestra de Judô - Profº Naoki Murata


NA QUEDA DO JU-JUTSU O ALVORECER DO JUDÔ


                                                     
     Corria o final do século XIX no Japão. Em 1868 houve a Restauração Meiji, com o retorno do poder ao imperador. Com o fim da classe feudal dos senhores da guerra, a utilização de guerreiros particulares caiu em declínio em prol de um exército unificado, com influência militar do Ocidente. Em 1871 um decreto imperial abolia o uso das duas espadas, símbolo máximo dos Samurais. Isso causou uma comoção nacional. Muitos Samurais praticaram o SEPPUKU, a morte ritual (incorretamente chamada de HARA-KIRI no Ocidente), enquanto outros se tornaram artesãos, pescadores ou comerciantes. Mas uns poucos não conseguiram abandonar as artes marciais.

     Na época do decreto que aboliu as espadas, muitas escolas de artes marciais não aguentaram a falta de alunos e fecharam. Incontáveis estilos que existiam naquela época (alguns autores mencionam cerca de 400 estilos, embora vários sejam similares, mudando apenas o nome) desapareceram, levando consigo preciosos segredos das artes marciais. Mas o antigo estava definitivamente fora de moda, pois a população buscava freneticamente os costumes e tecnologias do Ocidente, particularmente a Europa devido à abertura
dos portos no Japão para o ocidente, iniciada no ano de 1864, pelo comodoro Matthew Perry, comandante de uma expedição naval americana, que conseguiu fazer com que os japoneses abrissem seus portos ao mundo com o tratado "Comércio, Paz e Amizade".



     Como não era difícil acreditar, tempos depois surgiu uma onda contrária às inovações radicais. Havia terminada a onda chamada febre ocidental. O ju-jitsu foi recolocado na sua posição de arte marcial, tendo o seu valor reconhecido, principalmente pela polícia e pela marinha. Apesar de sua indiscutível eficiência para a defesa pessoal, o antigo jujitsu não podia ser considerado um desporto, muito menos ser praticado como tal. Não haviam regras tratadas pedagogicamente e nem mesmo padronizadas.


     Os professores ensinavam às crianças os denominados golpes mortais e os traumatizantes e perigosos golpes baixos. Sendo assim, quase sempre, os alunos menos experientes,machucavam-se seriamente. Valendo-se das suas superioridades físicas, os maiores chegavam a espancar os menores e mais fracos. Tudo isso fazia com que o ju-jitsu gozasse de uma certa impopularidade, logicamente, entre as pessoas esclarecidas e que possuíssem um pouco de bom senso. O ju-jitsu entrava noutra fase de decadência.


Jigoro Kano
     Em meio a essa onda avassaladora, sem trabalho e com sua arte desacreditada, muitos experts em Ju-jutsu se meteram em brigas de rua e arruaças, denegrindo o bom nome da arte. Logo o termo "ju-jutsu" era sinônimo de baderneiro e encrenqueiro. Muitos mestres juntavam seus adeptos em turmas e lançava desafios abertos, organizando lutas remuneradas, que geravam combates encarniçados pela "supremacia" técnica. Nesse quadro caótico, onde as raízes estruturais das artes marciais japonesas estavam abaladas e ameaçavam ruir, surge um homem com uma visão diferente e moderna, embora dotado do saber
ancestral: Jigoro Kano.

COMEÇA O JUDÔ

     Pelo declínio da arte, foi muito difícil encontrar um Mestre de Jujutsu com conhecimentos que satisfizessem o inteligente jovem. Começou a treinar com Teinosuke Yagi, cujo estilo nos é desconhecido. Depois estudou com Hachinosuke Fukuda e Masatomo Iso, da escola Tenshin Shinyo Ryu. Aprendeu também o Kito Ryu com o Mestre Tsunetoshi Iikubo, tendo atingido os maiores segredos desses dois estilos.

     Em 1882 Kano abriu seu próprio Dojô, chamado Kodokan, onde ensinava uma variação moderna do Jujutsu que ele chamava Judô. A mudança do nome se devia ao fato de que Mestre Kano não queria que sua arte tivesse a conotação negativa conferida aos praticantes de Jujutsu, pois considerava repugnante a
prostituição das artes marciais através de combates remunerados e desafios.

     Além disso a palavra "Do", caminho, era mais adequada aos seus objetivos: fazer do Judô um caminho, uma prática saudável para o corpo e para a mente e possível de ser praticado por homens e mulheres de qualquer idade.

     Em sua época era freqüente o número de acidentes sérios durante os treinos de Jujutsu. Jigoro Kano afirmou ainda que o termo escolhido, "judô", não havia sido criado por ele, mas era muito antigo, sendo utilizado pela escola Jikishin Ryu. Para diferenciar a sua arte ele a denominava "Kodokan Judô", nome pela qual ainda é conhecida. 


     Mestre Kano era um gênio das artes marciais. Seu desempenho foi tão extraordinário que Mestre Iikubo deu-lhe todos os livros e manuscritos ancestrais contendo os segredos do Kito Ryu. Embora dominasse pelo menos dois estilos, Mestre Kano nunca parou de aprender. Mantinha no conselho do Kodokan alguns dos melhores Mestres de Jujutsu de seu tempo, os quais forneciam a ele manuscritos e pergaminhos sobre suas técnicas mais ocultas.


     Como um inovador, Mestre Kano estava sempre procurando conhecimentos novos. Ao assistir uma demonstração de Karatê de Mestre Funakoshi, convidou-o a dar algumas aulas no Kodokan. Acabaram por se tornar grandes amigos e Kano convenceu Funakoshi a permanecer ensinando no Japão. Por causa disso o Karatê se difundiu e cresceu muito nesse país, passando daí para o resto do mundo. Ao saber da existência do Aikidô, assistiu uma aula do Mestre Ueshiba e ficou fascinado. "Esse é o Budô que eu gostaria que o Judô se tornasse", mencionou mais tarde a um aluno. Pouco tempo depois enviou alguns de seus alunos, entre eles Kenji Tomiki, para aprender Aikidô. Este acabou por criar uma variante, chamada "Tomiki Aikidô", que possui competições à exemplo do Judô.


     A obtenção de uma boa forma física foi enfatizada e a parte esportiva foi criada. Mestre Kano também desenvolveu o primeiro sistema de faixas de graduação, chamando de Kyu aos graus dos aprendizes e de Dan aos graduados.


     Esse sistema não existia no Japão anteriormente ao Judô. Baseado nas roupas marciais tradicionais ele desenhou um blusão forte e resistente e calças largas, para facilitar a "pegada" e os movimentos corporais. Nascia o que hoje se conhece popularmente como "JUDOGI".


POR QUE JUDÔ?

     Segundo o próprio Mestre Kano, enquanto ele estudava Jujutsu percebeu que essa arte seria um treinamento excepcional para a mente e para o corpo, devendo ser disseminada por todo o mundo. Mas o antigo Jujutsu não havia sido desenvolvido para a educação física e mental, para o desenvolvimento intelectual e moral, muito menos ao nível pretendido por Mestre Kano.


     Para essa missão era necessário uma arte mais refinada, com conceitos mais modernos. Ao mesmo tempo ele não queria inventar um nome totalmente novo, pois a sua arte era baseada em conhecimentos ancestrais, os quais ele
procurava conservar da deterioração geral. Além de ser formado por técnicas de Jujutsu especialmente selecionadas, o Judô incluía técnicas de luta Greco-Romana ocidental e metodologias de treinamento científicas, baseadas numa nova disciplina que crescia muito na Europa naquela época: a Educação Física.


1886, A Prova Final

     A subida vertiginosa do Judô na preferência da população criou muitas rivalidades. Mestres de Jujutsu desafiavam o Kodokan quase diariamente, alegando que Kano havia deturpado a sua arte e acrescentado elementos estrangeiros.

     Para fazer frente a essas ameaças, o jovem Kodokan possuía um time de primeira, composto por antigos Mestres de Jujutsu que haviam se juntado ao Mestre Kano. Entre esses, quatro se destacavam: Tsunejiro Tomita, Sakujiro Yokoyama, Yoshikazu Yamashita e Shiro Saigo, chamados de Shiten-no, "Os Quatro Senhores Celestiais", verdadeiros guerreiros que carregavam o nome do Kodokan em combates ferozes. Destes, o mais célebre era sem dúvida Shiro Saigo. Filho adotivo do Grande Mestre Tanomo Saigo, líder do Daito-Ryu Aikijujutsu, ele acabou rompendo com o Aikijujutsu para se juntar a Kano, revelando-se um dos melhores lutadores que o Japão já viu.


DO JUJITSU AO JUDÔ
                                  
                               Por Jigoro Kano, com modificações.
     A maioria das pessoas não têm nenhuma dúvida com o parentesco entre o Jujutsu e o judô, mas quantos podem diferenciá-los? Aqui, explicaremos os dois termos e direi o porquê que o judô veio substituir o Jujutsu.


     Muitas artes marciais foram praticadas no Japão durante o período feudal: com o uso de lanças, de arcos e flechas, de espadas e de muito mais. Jujutsu era uma destas artes. Taijutsu e yawara também chamados, eram um sistema de ataque que jogava, batia, retrocedia, bloqueava, dobrava e torcia os membros, fixando no oponente, se defendendo contra estes ataques.Embora as técnicas de jujutsu eram conhecidas bem antes, foi depois da metade do décimo sexto século que o jujutsu foi praticado e ensinado sistematicamente.


     Durante o período de Edo (1603-1868) tornou-se uma arte complexa ensinada pelos
mestres de várias escolas. 

    "Quando jovem, eu estudei o jujutsu com muitos mestres eminentes. Seu conhecimento vasto, fruto dos anos de pesquisas e a rica experiência, eram de grande valor para mim. Nesta época, cada  homem apresentava sua arte como uma coleção de técnicas. Ninguém percebia os princípios guiados pelo jujitsu. Quando eu encontrei diferenças no ensino das técnicas, eu encontrava dificuldades para saber qual estava correto. Isto conduziu-me a procurar um princípio subjacente ao jujitsu, um que se aplicou quando um lutador derrotou seu oponente. Depois de um estudo completo no assunto, tive a ideia de um princípio pervasivo: usar eficientemente a energia mental e física. Com este princípio na mente, eu revi outra vez todos os métodos de ataque e de defesa que eu tinha aprendido, retendo somente àqueles que eram de acordo com o princípio. Aqueles que não estavam de acordo eu rejeitei, e em seu lugar eu substituí pelas técnicas em que o princípio fora aplicado corretamente. O corpo resultante da técnica, que eu nomeei judô para distingui-lo de seu predecessor, é o que é ensinado na Kodokan.

     Jujutsu pode ser traduzido como "a arte suave", judô como "o caminho suave". A
Kodokan é, literalmente, "a escola para estudar a maneira". Porque o judô é mais do que uma arte do ataque e de defesa. É uma maneira de vida.


     "Em 1882 eu fundei a Kodokan para ensinar o judô às outras pessoas. Em alguns anos, o número de estudantes aumentou rapidamente.
Todo o Japão pratica judô, muitos mestres de
jujitsu já treinaram comigo. O judô está
gradualmente substituindo o jujitsu no Japão, e
ninguém mais fala do jujitsu como uma arte
contemporânea no Japão, embora a arte ainda
sobreviva em alguns países."



judonokenkyu.woese.com
Apostila  Judo Clube de Sintra - JUDOKAI - Portugal

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